Opinião: O Jardim das Borboletas de Dot Hutchison


 




Perto de uma mansão isolada, encontra-se um belo e luxuriante jardim com flores exuberantes, árvores frondosas e... uma coleção de preciosas «borboletas». Jovens mulheres sequestradas e tatuadas para se parecerem as suas homónimas. Quem toma conta deste estranho lugar é o aterrador jardineiro, um homem retorcido, obcecado com a captura e a preservação de seus espécimes únicos.

Quando o jardim é descoberto pela Polícia, uma das sobreviventes é interrogada. Os agentes do FBI Hanoverian e Eddison têm a tarefa de juntar as peças de um dos quebra-cabeças mais complicados das suas carreiras. A menina, cujo nome é Maya, ainda se encontra em choque e o seu relato está cheio de episódios arrepiantes, no limite da credibilidade. Tortura, todas as formas de crueldade e privação pareciam estar na agenda da estufa dos horrores, mas no testemunho da jovem há lacunas e reticências... Maya continua a sua terrível história e os agentes do FBI precisam de descobrir quem, ou o quê, Maya tenta esconder...
 

A história é-nos apresentada em formato de um depoimento.

Maya, uma das presumíveis vítimas relata a sua experiência a dois detectives e é esse depoimento que nos guia pela história desvendando a descoberta de um conjunto de mulheres mantidas em cativeiro.

A história tem sem dúvida um alto potencial: apenas uma única pessoa nos pode revelar o sucedido!

Quanto ás personagens, Maya é-nos apresentada como uma rapariga inteligente, sofrida que diligentemente procura sobreviver num mundo que não lhe foi favorável. Este é o “background” que ajuda a perceber as suas reservas, a sua atitude previdente, desconfiada e defensiva.

Na mecânica da escrita gostei de duas vertentes, a primeira prende-se com a forma como a autora condicionou, quase na totalidade, a descoberta da verdade ao testemunho de Maya.

Este condicionamento foi inteligente uma vez que empolou o interesse do discurso da personagem. A autora chega a brincar com a paciência dos detectives, uma vez que a personagem muitas vezes não responde directamente ao que lhe é perguntado e divaga contando a sua história pessoal. É ela que conduz o ritmo e o tempo da narração dos factos. Não sei se na realidade os detectives seriam assim tão pacientes com a postura de uma testemunha, até porque a dúvida de se ela é mesmo uma vitima paira no ar até ao final do livro. Mas não tenho dúvidas que serviu convenientemente a trama.

A outra vertente prende-se com a escrita da autora, uma vez que a mesma se apresenta cativante e inteligentemente consegue prender o leitor com a promessa da descoberta da verdade e de algum segredo sombrio.

Há contudo no desfecho algo que não funcionou tão bem como seria expectável! Não sei se pelo facto de desde inicio sabermos que salvaram algumas das vítimas e com isso se perder um pouco do fulgor do suspense e da dúvida.

Ou se pelo facto desse conhecimento prévio dar mais peso ao que nos vai (ou não) dizendo Maya, porque é evidente que ela esconde algo desde início e o facto dessa revelação ficar aquém e não ter tido a dimensão/impacto que eu tinha previsto para o final criando em mim essa sensação de expectativa gorada.

Mas os argumentos para ler este livro são muitos e variados:

Há pequenos enxertos da obra de Edgar Poe...

A história mostra imaginação. A criação de um mundo de borboletas onde a cor, a beleza, o simbolismo convive com a repulsa, submissão, violência e autoridade imposta são apelativos e argumentos que impelem o leitor a ler.

A história mostra uma realidade peculiar, a existência de regras muito próprias fruto de uma realidade alternativa (ainda que imposta) conjugada com os elementos referidos atrás são, em minha opinião, elementos recorrentes na literatura YA, género familiar à autora.

Eu gosto particularmente dessa mistura de elementos entre géneros quando esses enriquecem o cenário, como é o caso.

Vamos ver o que a autora nos tem mais reservado.








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