Opinião: Pecados Santos de Nuno Nepomuceno


 



Um rabino é encontrado morto numa das mais famosas sinagogas de Londres. O corpo, disposto como num quadro renascentista, representa o sacrifício do filho de Abraão, patriarca do povo judeu.

O caso parece ficar encerrado quando um jovem professor universitário a lecionar numa das faculdades da cidade é acusado do homicídio.

Mas é então que ocorrem outros crimes, recriando episódios bíblicos em circunstâncias cada vez mais macabras. E as dúvidas instalam-se.

Estarão ou não estes acontecimentos relacionados?

Porque insistirá a sua família em pedir ajuda a um antigo professor, ele próprio ainda em conflito com os seus próprios pecados?

As autoridades contratam uma jovem profiler criminal para as ajudar a descobrir a verdade. Mas conseguirá esta mente brilhante ultrapassar o facto de também ela ter sido uma vítima no passado?
 




Foi com grande expectativa que li Pecados Santos de Nuno Nepomuceno.

Nota prévia:

Nuno Nepomuceno é um autor dotado, reconhecido e acarinhado pela generalidade dos bloggers literários portugueses que versam sobre thrillers. É impossível não ficar contagiado com a força de vontade demonstrada e que é necessário ter para vingar no mundo literário. O mercado nacional é pequeno e fazer nome neste meio sem um "apoio forte e consistente" em várias áreas parece uma tarefa herculana!


O leitor mais atento perceberá que Nuno é um "guerreiro", com uma vontade acérrima, desdobra-se para oferecer um contacto muito próximo ao seu leitor. Esse contacto, menosprezado por outros autores tem sido, na minha perspectiva, prova de uma humildade dignificante e tornou-se marca pessoal do autor. É certo que isto tem um custo a nível pessoal para o próprio autor... o tempo não estica e as redes sociais são muito sôfregas na atenção que "exigem".


Para mim enquanto blogger e acima de tudo enquanto leitor é uma honra e um prazer poder ler Nuno Nepomuceno porque os livros encerram não só uma história mas algo bem mais profundo, algo que é fruto de uma dedicação e entrega que sinto tão próxima e tão intima. É como acompanhar o crescimento de uma árvore, vê-la ganhar força, convicção e singrar por mérito próprio.

Indo ao livro:

Depois da trilogia "Freelancer" ("O Espião Português", "A Espia do Oriente" e "A Hora Solene") que tem como personagem principal "André Marques", o autor ofereceu-nos "A Célula Adormecida" que versa sobre um atentado terrorista em Lisboa reivindicado por Daesh. Com foco no Islamismo. Um tema actual e muito bem explorado com o Prof. Afonso Catalão como personagem central. O professor Afonso é também a personagem principal do último livro do autor: "Pecados Santos" que por sua vez tem como pano de fundo o Judaísmo.

"Pecados Santos" tem por base alguns homicídios de cariz religioso uma vez que parecem retratar episódios bíblicos. Num desses crimes é suspeito o filho de uma ex-namorada de Afonso que por essa via, numa primeira fase, se vê envolvido na investigação. Será que há relação entre todos os crimes? Será essa a chave para inocentar o jovem? Estará Afonso disponível em revisitar o seu passado?

Mais uma vez Nuno ganha pontos!
 
Consegue um livro pleno de emoção e com profundidade. Gostei como o livro foi trabalhado e gostei do facto da sua construção tivesse privilegiado a harmonia e um conveniente encadeamento das cenas.

A evolução do enredo foi bem gerida e senti-me de imediato parte daquela história.

Afonso, a personagem principal, continua muito enigmático, com muito potencial para livros posteriores. Faz-me lembrar de alguma forma de André Marques personagem de outros livros do autor.

Aqui conhecemos um pouco mais de Afonso, os flashbacks contextualizam a história.

Gostei de uma nova personagem chamada à história - a psicóloga criminal - uma personagem marcada por um acontecimento trágico na primeira pessoa. Apresenta-se frágil e ainda assim arguta nas ilações. O papel que lhe foi atribuído foi inteligente.

Gosto de ver numa personagem esta mistura de pontos fortes e fracos bem desenhados e coerentes com o seu papel na história.

Não tenho duvidas que o Nuno está a marcar de uma forma indelével a ficção em Portugal. Com a dose certa de arrojo, trabalho duro, honestidade e humildade.

Tal como no livro precedente o livro oferece um mergulho em culturas religiosas diferentes, neste caso o Judaísmo, e fá-lo com uma abordagem despida de preconceito, muito elucidativa e educativa. Foi com curiosidade que me inteirei da razão de vários procedimentos religiosos que antes eram uma incógnita para mim. 

O livro trouxe um interesse renovado por estas temáticas, levou-me a questionar, a querer saber e a compreender! E só por isto valeria a pena ler o livro.

É de notar que a investigação do autor transparece em todo o livro oferecendo ao leitor muito mais que uma boa história de ficção. Sente-se o conforto e confiança no discorrer do discurso.

A sua escrita tem-se mostrado consistente, harmoniosa e tem evoluído paulatinamente, como convém. 

Gostei do final ... Inesperado. ;)

Da entrevista que vi do autor suspeito que o cristianismo pode vir a ser a temática do próximo livro. :)

Só posso recomendar.









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