Archive for maio 2015

Opinião: A Espia do Oriente de Nuno Nepomuceno



 

Dubai, Emirados Árabes Unidos.

De férias na região, um investigador norte-americano é raptado do hotel onde se encontrava instalado. Uma nova pista sobre um antigo projecto de manipulação genética é descoberta e a Dark Star, uma organização terrorista internacional, está decidida a utilizar os conhecimentos deste cientista para ganhar vantagem.
 

Contudo, de regresso à Europa, uma das suas operacionais resolve trair o sindicato do crime e oferece-se para trabalhar como agente dupla ao serviço da inteligência britânica. O mistério adensa-se quando esta mulher, de nome de código China Girl, impõe como única condição colaborar com André Marques-Smith, o director do Gabinete de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros português e espião ocasional.
 

Obrigados a trabalhar juntos para evitarem um atentado a uma importante líder europeia, uma atmosfera tensa, de suspeição e desconfiança, instala-se de imediato entre os dois. Mas que segredos esconderá esta mulher, cujo próprio nome é uma incógnita? Serão as suas intenções autênticas? Será o espião português capaz de resistir à sua invulgar e exótica beleza?
 

Vencedor do Prémio Literário Note! 2012, Nuno Nepomuceno regressa com A Espia do Oriente, o segundo livro da série Freelancer. Por entre os cenários reais de Budapeste, Berlim, Londres, Courchevel, Dubai e Lisboa, o autor transporta-nos para um mundo de mentiras, complexas relações interpessoais, e reviravoltas imprevisíveis. Uma reflexão profunda sobre os valores tradicionais portugueses, contraposta com a sua já habitual narrativa intimista e sofisticada, e que vai muito além do tradicional romance de espionagem.





A história continua ..., André encontra-se revoltado, com dificuldades em conseguir voltar a confiar em alguém. A vida prossegue e agora as missões são mais perigosas. Os segredos proliferam no ambiente.
 
Depois do "Espião Português" mergulhei na "Espia do Oriente", confesso que com grandes expectativas que não saíram goradas. 

É clara a evolução do autor, na forma, na escrita e no detalhe.

O que trás um problema para resolver ao autor... a expectativa para o terceiro livro trás uma grande responsabilidade para com os fãs, como eu, desta trilogia. :)

Um dos elementos que, quanto a mim, sobressai são as descrições dos cenários que ganham cor e vida nas palavras do autor. Muito bem contextualizados sem chegar a aborrecer o leitor. Facto muito positivo neste livro.

Outra nota positiva recai sobre a diversidade de cenários oferecidos, distribuídos por vários países.

Quanto ás personagens. O autor teve a preocupação de oferecer uma maior profundidade das personagens secundárias, revelando um pouco mais do passado ("backstory") de cada uma delas levando a aumentar a percepção do leitor no que à história diz respeito.

É evidente o uso inteligente de elementos de descrição física para identificar as personagens.
Este mecanismo da "escrita criativa" cria laços e desenvolve empatia e envolvimento com o leitor.

O romance ganha um pouco mais de destaque neste segundo livro, mas confesso que pessoalmente gostaria de ver mais intensidade e intimidade entre as personagens principais, momentos que reunissem mais tensão, desejo e intimidade. Esta é obviamente uma pretensão pessoal que nada afecta a qualidade da obra.

Gostei do detalhe de o autor procurar colocar um pouco de humor no livro utilizando os pais de André para esse fim, o que ajuda o leitor a recuperar o folgo da adrenalina imposta pela acção intensa do livro.

O momento tenso e arrepiante que envolve André e uma ponte (e mais não digo...), demonstra as qualidades de escrita do autor, oportuno, revelador e contudo um facto que contribui muito para a construção consistente da personalidade da personagem.

O desfecho é provocador e audaz. Apesar de arriscada, na minha perspectiva, a escolha resultou muito bem.

Após a surpresa muito positiva do primeiro livro, a responsabilidade cresceu no livro seguinte, e dou-me por satisfeito para um segundo livro da trilogia. Quanto a mim, "A espia do Oriente" supera a obra anterior.

Tal como no livro anterior, fiquei agarrado desde a primeira página. Sobressaíram as descrições dos cenários e a acção sempre ao rubro. Mais um livro para a minha "prestigiada" estante de policiais.


A Espia do Oriente junta descrições cheias de cor, acção electrizante e muitas, muitas surpresas.  Os dois livros, este e o anterior, marcam positivamente a ficção nacional pelas mãos de Nuno Nepomuceno. Um autor português a não perder de vista, que evidência dotes literários de grande qualidade.

Opinião do livro anterior aqui:

http://livrosemarcadoressafe.blogspot.pt/2015/05/opiniao-o-espiao-portugues-de-nuno.html
 

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Resultado Passatempo: Alguém para Tomar Conta de Mim de Yrsa Sigurdardóttir









O blog Livro e Marcadores e a Editora Quetzal agradecem as 481 participações. 

O(a) vencedor(a) foi:  








Bárbara Sofia Encarnação Vieira    - Funchal 





Parabéns
A equipa do "Livros e Marcadores"

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Opinião: A Rapariga no Comboio de Paula Hawkins



 

O êxito de vendas mais rápido de sempre.

O livro que vai mudar para sempre o modo como vemos a vida dos outros.


Todos os dias, Rachel apanha o comboio... No caminho para o trabalho, ela observa sempre as mesmas casas durante a sua viagem. Numa das casas ela observa sempre o mesmo casal, ao qual ela atribui nomes e vidas imaginárias. Aos olhos de Rachel, o casal tem uma vida perfeita, quase igual à que ela perdeu recentemente.

Até que um dia...

Rachel assiste a algo errado com o casal... É uma imagem rápida, mas suficiente para a deixar perturbada.

Não querendo guardar segredo do que viu, Rachel fala com a polícia. A partir daqui, ela torna-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, afetando as vidas de todos os envolvidos.





O livro conta a história de três mulheres cujas vidas se entrelaçam, se afectam e partilham muitas mais afinadas do que à partida possa parecer.


É uma história forte, com uma voz possante, repleta de personalidade e cheia de simbologia. Faz-se acompanhar de personagens credíveis e cruas, o que as reveste de uma proximidade interessante e atractiva para quem lê.


O livro é-nos apresentado pela voz de três personagens Rachel, Megan e Anna, cabendo a Rachel ser o fio condutor desta intrincada história. Cabe a ela também unir todas as outras personagens, cabe a ela ser a chave para o mistério que se adensa em cada nova cena.


Gostei simbologia atribuída ao comboio, a sua recorrência que lembra os ciclos da vida e a sua propensão para repetir o caminho trilhado como se de um percurso previamente definido se trata-se. O paralelismo da passividade com que nos entregamos e aceitamos o que nos é imposto. Uma entrega despojada de ambição a uma rotina que se enceta a cada novo dia nas nossas vidas. A passividade desconcertante a que nos confinamos e nos acomodamos.


A autora joga com a imaginação do leitor, aproveitando os lugares comuns da fragilidade humana para encontrar a ligação com o leitor. Utiliza um forte e inteligente mecanismo de conexão: as emoções.


Qual de nós não se perdeu em pensamentos num ou noutro momento e conscientemente (ou inconscientemente) não ficcionou sobre a vida de um estranho? Faz parte da natureza humana(!), é assim que nós criamos (ou não) empatia por alguém que não conhecemos, com quem nem sequer falamos! É algo que ultrapassa o racional, algo primário que se baseia nos nossos instintos! Tendemos a estabelecer relações entre as nossa vivência, entre "o que" e "quem" conhecemos, e com base em alguma semelhança física, de atitude, de postura, do timbre de voz, de um gesto, de uma reacção, criarmos uma pretensa imagem de alguém. E esta é a ideia que é apresentada ao leitor, um começo ("Hook") forte e apelativo que à partida apresenta mais perguntas do que respostas, como convém.


Quanto aos mecanismos usados: a autora aproveita muito bem as limitações que providenciam as visões de vários narradores, as suas naturais limitações, a sua subjectividade, como é o caso do problema com a bebida e as repetidas perdas de memória de Rachel.


As personagens são apelativas. Conseguimos subtrair simbolicamente traços comuns nos géneros! O sexo feminino apresenta-se frágil, permissivo, por vezes submisso e por oposição com rasgos de insuspeita energia e insurgência que as fazem emergir e opor-se, transformando as suas fraquezas em forças. 

O sexo masculino, por sua vez, apresenta-se opressivo, dominador, manipulador, galanteador com escassas pinceladas de sensibilidade. Havendo também aqui uma subtil e trabalhada fragilidade e uma imprevisível reversão.



Em suma:



Um imponente thriller, forte e encorpado pela fragilidade humana.

Um jogo intenso e auspicioso entre a inevitabilidade e o suspense.

Irremediavelmente um best-seller.

Os dias  partilhados com o livro ...

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