Opinião: Quando o ódio matar de Carina Bergfeldt


 
Com grande minúcia, uma mulher planeia a morte da pessoa que converteu a sua vida num inferno, o pai. O macabro plano toma forma num bloco-notas em que a capa tem umas apetitosas madalenas. Uma nota no frigorífico com as palavras: «Matar o papá» recorda-lhe qual o motor que impulsiona a sua vida.

Enquanto o plano parricida avança, é encontrado o cadáver de uma mulher num lago da cidade de Skövde. A inspectora Anna Eiler trabalha no caso, mas não é a única: duas jornalistas locais, Ing-Marie Andersson e Julia Almliden, realizam a sua própria investigação.


As três têm razões pessoais para resolver o assassínio, as três escondem algo, mas só uma delas é capaz de preparar a sangue-frio um crime mais atroz do que aquele que pretende resolver.

 



 Mais um livro nórdico, um dos subgéneros literários que mais gosto.

O livro apresenta-se com vários capítulos pequenos, facilitando a fluidez da leitura.

Um assassinato está a ser preparado. A pesquisa é metódica, consciente e movida por uma profunda convicção de que aquela é a única solução possível e viável!

Esta é a ideia basilar que acompanha o livro, que fomenta no leitor uma curiosidade mórbida e o cativa ao longo do livro com uma cumplicidade inconsciente mas leal. O interessante é não saber a identidade do potencial assassino, assassina neste caso, porque a única certeza que vamos tendo é que é uma mulher. E é potencial porque desconhecemos o desfecho que terá este projecto!

No livro somos também brindados com um assassinato de uma mulher, investigado pela inspectora Anna Eiler e um par de jornalistas, Ing Marie e Julia.

É interessante ver e perceber a construção desta trama, o cuidado na elaboração por parte da autora. A diversidade e a abertura de possíveis soluções para o livro! Surgem-nos muitas perguntas, e estas mantêm-se em aberto estimulando a curiosidade do leitor.
Será que a pretensa assassina è a vitima do crime que Anna Eiler investiga? Ou será que é uma das três mulheres que nos são apresentados no livro (Anna Eiler,Ing Marie ou Julia)? Se for, qual? As três têm segredos....

Quanto ao género literário, facilmente conseguimos descobrir várias características do subgénero literário nórdic noir ("scandinav crime fiction" ou "nordic crime fiction"), uma perspectiva mais profunda e plausível das personagens em causa. Uma fragilidade mais coerente e realista do ser humano. Incluindo uma vincada critica social à violência doméstica e à passividade da sociedade em si. Uma critica que em muito transcende as fronteiras da Suécia.

O que retive, ao contrário do que tenho lido em várias entrevistas, não foi só a violência doméstica, mas o cuidado de ver mais além deste ponto e o expor dessa forma. De ver os efeitos psicológicos sobre as crianças, a forma como as afecta e condiciona na sua vida futura. A violência psicológica e a fragilidade permanente a que é levada a suportar uma criança quando exposta a estes eventos, ainda que sobre ela não haja violência física.

A autora, que reconhece várias influências desde Stieg Larson, que tem o cuidado de incluir no livro, a Camilla Lackberg que foi essencial para "ver" as personagens com outros olhos. 

Numa das entrevistas que deu, Carina Bergfeldt revela que efectuou uma detalhada pesquisa pelo mundo da violência doméstica, e que os episódios retratados não são ficção, mas sim meras reposições de eventos reais e arrepiantes que transportou para o livro da sua pesquisa e testemunhos em primeira mão. 

Vejo nesta autora um enorme potencial, e estou expectante pelo segundo livro da autora visto tratar-se de uma trilogia.

Um livro marcante neste género literário pela forma e mensagem que transporta.

Parabéns à Planeta pela aposta em mais uma grande autora, e votos para que nos brinde brevemente com o próximo livro da autora.

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