Opinião: A Célula Adormecida de Nuno Nepomuceno


 



Em plena noite eleitoral, o novo primeiro-ministro português é encontrado morto. Ao mesmo tempo, em Istambul, na Turquia, uma jornalista vive uma experiência transcendente. E em Lisboa, o pânico instala-se quando um autocarro é feito refém no centro da cidade. O autoproclamado Estado Islâmico reivindica o ataque e mostra toda a sua força com uma mensagem arrepiante.

O país desperta para o terror e o medo cresce na sociedade. Um grande evento de dimensão mundial aproxima-se e há claros indícios de que uma célula terrorista se encontra entre nós. Todas as pistas são importantes para o SIS, sobretudo quando Afonso Catalão, um reputado especialista em Ciência Política e Estudos Orientais, é implicado.

De antecedentes obscuros, o professor vê-se subitamente envolvido numa estranha sucessão de acontecimentos. E eis que uma modesta família muçulmana refugiada em Portugal surge em cena.

A luta contra o tempo começa e a Afonso só é dada uma hipótese para se ilibar: confrontar o passado e reviver o amor por uma mulher que já antes o conduziu ao limiar da própria destruição.
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O livro abre com 2 eventos fortes ... prepare-se ...



O Nuno é detentor de uma narrativa fotográfica invejável, quando descreve cenários além-fronteiras oferece um retracto vivo, dinâmico e extraordinário. É um prazer viajar nas palavras de Nuno.

Apreciei a pesquisa que verteu no livro. O cuidado e a linearidade que utilizou na explicação dos eventos. Foram descritos e explicados rituais que desconhecia, tal como as razões que os suportam.
Gostei do toque sombrio e realista que acompanha o livro. Os eventos dilacerantes que acontecem a algumas personagens são crus, “em bruto” e dão personalidade ao livro! Apesar de muito dramáticos e em “catapulta” são importantes, no objectivo que julgo acompanhar o livro.
Na minha opinião, a necessidade de contextualizar a história, de explicar determinados eventos, por vezes deslocou/afastou a tensão que a ficção requer em determinado momento da curva da narrativa. Nada que afecte a qualidade do livro, longe disso. Até porque a escrita é para ser ousada e quebrar estereótipos e moldes.

Dos 4 livros que li do autor este é o mais sombrio, o que tem mais “substância” ou retorno para o leitor, se preferirem. O que tem a mensagem mais forte  E acaba por mostrar de uma forma muito simples que a vida não é feita de linhas rectas, antes de linhas retorcidas que se enrolam e se prendem umas nas outras. E cabe a cada um de nós ter a abertura de espírito para respeitar as diferenças com que nos confrontamos e que nos envolvem no dia-a-dia, e aceitá-las com o bom senso necessário. Não haverá falta de oportunistas para pegar nesses emaranhados de linhas e as tentem conduzir para o caos e o abismo!
 
Notou-se o trabalho árduo que teve. E confesso que pesquisei alguns dos temas que abordou validando-os se eram ficção ou realidade.  Fiquei surpreendido com o que desconhecia...

Acho que este livro tem um valor que ultrapassa a mera ficção, e esse também é o papel de um escritor, oferecer algo mais do que apenas uma história. Pois uma história tem um papel que vai muito além da imprescindível parte lúdica.

O toque magistral deste enredo é para mim a mensagem que vem à superfície! Não há heróis! Não há um super homem que após um pontapé no meio de uma cambalhota acrobática desarma e derrota os "maus" no último segundo e reestabelece a harmonia e a paz.

Nesta guerra de loucos, nesta cruzada à luz de estandartes fantasmas só há perdas!!!  Em todos os quadrantes! Perdas de vidas, perda de esperança, … nada se soma tudo se subtraí, mesmo quando aparentemente alguém lucra há mais e mais perdas, perdas de integridade, perdas de humanidade...
Bom trabalho Nuno.








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