Opinião: Numa Floresta Muito Escura de Ruth Ware



«Não vai largar o livro até chegar à última página. A atmosfera densa e as revelações surpreendentes vão deixá-lo sem fôlego.»
Entertainment Weekly
 

Uma mulher solitária recebe um convite inesperado para a despedida de solteira de uma amiga que não via há muito tempo. Relutantemente, ela aceita participar na reunião de amigas, algures numa casa isolada na floresta.

Quarenta e oito horas depois, Nora acorda numa cama do hospital. Está ferida mas não se recorda exatamente do que se passou. Sabe, no entanto, que alguém morreu. 


O que fiz eu?, pergunta-se ela, consciente de que algo muito grave aconteceu naquela casa na floresta escura, muito escura….



Entre um inusitado convite para uma despedida de solteira e uma inexplicável estadia no hospital distam 48 horas e muitos acontecimentos sombrios e nublosos que a todo custo Nora tenta reconstruir.


Este livro chegou às minhas mãos como uma oferta inesperada. Adoro receber livros, é certo e sabido, consequência: uma desmensurada curiosidade… Obrigado Clube do Livro.


A escrita é aberta, com um toque intimista na forma como a história é levada ao leitor.


Neste livro, gostei especialmente da forma como foi trabalhada a história e todos os seus elementos. E o que mais sobressaiu, para mim, foi a evolução em crescendo, começando morna e aquecendo em múltiplas possibilidades no desenlace da história. A história é contada em “modo” de flashback, em que Nora tenta recordar os eventos que medeiam a chegada à cabana e as razões que a levaram a estar num hospital com graves mazelas.


Há duas vertentes que chamaram a minha atenção: a exposição das personagens e o contraste das mesmas!


Quanto à exposição, é interessante ver como este conceito foi verdadeiramente explorado, revelando muito de como a autora planeou a história. Do que está no cerne da história.


O cenário é uma cabana de vidro, o que revela a exposição a que todas as personagens ficam sujeitas. Uma espécie de palco, nas palavras de Tom. O seu passado (das personagens) tem também essa mesma função: colocar a nu as fragilidades de todos, coloca-los à merce do desenrolar dos acontecimentos. E para ajudar a ampliar esse “status” de exposição, a autora isolou-as de elementos externos! Não há vizinhos, não há rede, não há telefone. E a neve … essa, “pode” deixá-los presos na cabana.


O conceito de uma despedida de solteiro repleta de “estranhos” é interessante, quem não se viu num ou noutro lugar que preferia não estar? Empurrados por uma cadeia de acontecimentos que toldaram a nossa vontade e nos encaminharam para ali! Acontecimentos e situações que nos põem tensos perante a imprevisibilidade dos acontecimentos subsequentes. Acrescentem resquícios de subtil malvadez e teremos uma imagem muito próxima do ambiente vivido pelas personagens.


Quanto ao contraste da personalidade das personagens é para mim o elemento dinamizador. Temos Nora, a escritora, uma pessoa que se isolou e que emana fragilidade, o nosso ponto de vista da história. Temos Nina, a cirurgiã, que usa o sarcasmo como forma de defesa. Flo, a amiga que idolatra Clare, a noiva, com um nervosismo exacerbado à flor da pele e que demonstra constante instabilidade, oscilando entre momentos de puro êxtase e de decadente melancolia. Clare, a noiva “perfeita”, e Tom, o amigo gay, que ainda assim, aparenta ser o mais equilibrado do grupo.


Excelentes argumentos e ingredientes para fazer deste livro uma companhia deliciosa.


Um livro a reter, que recomendo para o entardecer dos dias quentes que se avizinham.


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