Opinião: Os Melhores Contos de Edgar Allan Poe



«Quem foi Edgar Allan Poe? Um bardo tocado pelos deuses ou nada mais do que um homem atormentado pela loucura e pobreza e que desapareceu misteriosamente nos últimos dias antes da sua morte?»



 


Quem foi Edgar Allan Poe? Um bardo tocado pelos deuses ou nada mais do que um homem atormentado pela loucura e pobreza e que desapareceu misteriosamente nos últimos dias antes da sua morte?

 As histórias que deixou para trás mostram como o seu génio literário não se detinha perante nada. Abriu novos caminhos de ficção e tornou-se assim pai de histórias de detetives, pioneiro na ficção científica, um mestre do suspense e horror.

 Reconhecido como uma das vozes mais influentes e inspiradoras do século XIX, a presente edição especial convida-o a apreciar 28 dos melhores contos do autor ilustrados por artistas nacionais, dando a conhecer o legado de Edgar Allan Poe a novas gerações.


Vou começar por contextualizar a minha relação com Edgar Allan Poe. Ao longo das minhas leituras tem sido uma referência incontornável quer por autores ou mesmo personagens. Uma referência clássica que muitos não prescindem. A pouco e pouco foi crescendo em mim uma vontade de ler, conhecer e quiçá partilhar o fascínio tão doutamente vertido nos livros da minha eleição por este autor. Mas o tempo não estica ... e a verdade é que antes de comprar um livro teria que despender tempo na pesquisa para escolher "o livro" ideal a comprar e face à quantidade de livros que regularmente me vai chegando e a gestão dessas leituras apresentava-se uma tarefa difícil.
Mas como tudo na vida: é quando menos esperamos que as oportunidades surgem e há que as agarrar com unhas e dentes. Neste caso a Saída de Emergência teve a amabilidade de me ceder um exemplar e assim proporcionar-me esse confronto com o autor.
Quando o livro chegou, uma das coisas que sobressaiu de imediato foi a capa. Uma encadernação majestosa e apelativa: capa dura e acabamentos a "ouro" fazem as delicias de qualquer ávido leitor. A dada altura, depois de olhar demoradamente para toda a simbologia da capa alguém jocosamente me disse: "Isso é um livro, tens que abrir para poder lê-lo!".
O livro é composto por uma colectânea de 28 contos deliciosos. Não são contos que se lêem de uma forma fluída, pelo menos não foi o meu caso. São contos que merecem uma leitura atenta pois o que estes contos transportam são mais que palavras, são mais do que entretenimento. Têm um valor intangível cujo potencial não convém desperdiçar.
Por norma recuso-me a sublinhar um livro, a não ser que seja de estudo, mas neste caso não me contive! Havia um manancial de informação, de passagens a que mais tarde queria voltar para reler, relembrar e poder vislumbrar de outra perspectiva com diferente bagagem.
Outro apelativo deste livro são as ilustrações o que o tornam único, são ilustrações oportunas de autores portugueses com um grande sentido de missão e olho atento no detalhe e que conseguiram, pelo que pude ver, ilustrar dignamente tão grandiosa obra. São 28 contos, cada um à sua maneira, confrontam o leitor com habilidade impar de escrita do autor. Cada um oferece um pouco do autor.  

Confesso que (ainda) não li todos os contos, não por desleixo mas por opção. Quero ler pausadamente, quero explorar dignamente cada texto, quero poder saboreá-lo sem pressas e com a disponibilidade intelectual que cada um exige.
A razão pela qual adianto uma opinião antes de terminado o livro é porque do (muito) que já li, os contos que tive oportunidade de explorar tiveram um grande impacto em mim e não poderia deixar de divulgar tão positiva experiência e recomendar o mesmo.
As minhas pesquisas sobre o autor revelaram uma juventude complicada marcada pela dor e perda. O abandono do pai e morte trágica da mãe empurram-no para a adopção, segue-se a morte da madastra e mais tarde da mulher. Situações que muitos acreditam estar por trás das referências sombrias nos seus textos. O álcool e o jogo trouxeram grandes dissabores e dificuldades, e revelaram-se a fuga de uma mente prodigiosa e ainda assim atormentada.

A história está repleta de grandes valores criativos da humanidade, desde a literatura até à musica, cujas vidas foram marcadas nefastamente por excessos mas que os levaram a fazerem obras impares que influenciam gerações atrás de gerações.
Diz-se de Edgar que foi um severo crítico literário o que lhe valeram alguns inimigos que o condicionaram pessoal e profissionalmente.
Casou com uma prima de 13 anos, Virginia, mentindo na idade da jovem para o casamento ser possível. Um casamento feliz segundo consta. Virgina morreu muito cedo com 25 anos com tuberculose. Um evento que o dilacerou. Estas vivências acabam por o perseguir na sua obra, nos seus contos. Por vezes aparentemente contraditórios.
Veja-se o caso do conto "Berenice" em que se reproduz o casamento de Egeu com sua prima Berenice, onde a doença é transversal às duas personagens e vários traços de paralelismo podem ser traçados com a vida do autor. Este é um conto que mostra a mistura perfeita entre suspense e uma leve pincelada de terror. O próprio contexto e a focalização do conto nestas duas personagens imprime à história uma conexão profunda e intima com o próprio autor.
Recorrente é a história trágica, difusa e misteriosa da morte de grandes nomes, Poe não foge à tradição, a sua morte está envolta num denso nevoeiro e a sua causa permanece um mistério mas há quem adiante como responsável o álcool, drogas. doença, suicídio entre outros...

Falando sobre alguns dos contos:

"William Wilson" é um conto engraçado sobre dois rapazes que se dão pelo mesmo nome, mas as semelhanças não se ficam só ai... A competição, a controvérsia, o constante atrito e divergência entre ambos leva a uma reflexão interessante de se na realidade não estivemos o tempo todo a falar de um só William Wilson. Delicioso ... "O Homem na multidão" invoca o poder e sentido de observação de Edgar Poe, os pequenos trechos das nossas vidas rotineiras escrutinados pelo autor.
Outro conto que gostaria de realçar é o incontornável "Os crimes na Rue Morgue", considerado por muitos o precursor dos policiais na literatura, onde vemos o arguto sentido da dedução em acção. A explicação do funcionamento de um jogo de cartas chamado "Whist" e todo o caminho narrativo preliminar até lá comprovam a grande capacidade de narrativa (e inteligência) do autor e deliciam uma vez mais o leitor. Não nos podemos esquecer, que Edgar Poe viveu em 1809-1849 e que mesmo assim estes contos continuam intemporais de uma qualidade literária invejável e intimidante.
Outros campos abordados e que influenciaram várias correntes literárias estão a cosmologia e a criptografia. Quanto a este último tema recomendo a leitura do conto: "Escaravelho de ouro".
Por último chamo a atenção para um texto introdutório da editora Safaa Dib que antecede a obra e para uma frase em particular que a meu ver condensa muito da imagem que tenho de Edgar Allan Poe: 
«A tentação para muitos críticos é encarar a sua produção literária como o produto de um espirito em tumulto, quando na verdade o controlo absoluto que detinha sobre a sua criação só poderia advir de uma mente lúcida.»

Tentei não desvendar muito do livro até porque o interessante é sermos deslumbrados na primeira pessoa.  
Recomendo a descoberta de cada um dos contos, a pesquisa sobre o mesmo e a possibilidade de ver com detalhe as ilustrações que acompanham o referido conto. 

Haja talento! :)

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