Opinião: A amante do papa


  

Tendo como pano de fundo uma corte exuberante e vibrante com personagens inesquecíveis e figuras históricas, a autora recria com rigor histórico o ambiente da Renascença italiana.

Uma história de coragem e ambição sobre uma condessa cuja vontade e paixão não conheciam limites.

Jeanne Kalogridis consegue de forma magistral mostra-nos a história verdadeira da Itália renascentista, através da vida de uma mulher nascida na época errada que mostrou uma força surpreendente num mundo dominado pelos homens, na segunda metade do século XV.

Filha do duque de Milão e mulher do conivente conde Girolamo Riario, Catarina Sforza foi a guerreira mais corajosa do Renascimento italiano.

Governou os seus territórios, travou as suas lutas e teve sempre os amantes que lhe apeteceu, sem consequências até ter um caso com Rodrigo Bórgia.

A sua história notável é contada pela dama de companhia, Dea, uma mulher conhecida por ler as cartas de sorte, as antecessoras do tarô dos nossos dias.

Enquanto Dea tenta descobrir a verdade sobre o assassínio do marido, Catarina, sozinha, rechaça os invasores que tentarão roubarlhe o título e as terras.
No entanto, Dea lê as cartas e estas revelam que Catarina não pode fazer frente a um terceiro e último invasor: nada mais, nada menos do que César Bórgia, filho do corrupto papa Alexandre VI, que tem umas velhas contas a ajustar com Catarina.

Encurralada na fortaleza de Ravaldino enquanto os canhões de Bórgia atingem as muralhas, Dea passa em revista o passado escandaloso e os combates de Catarina para compreender o destino de ambas, e Catarina tenta corajosamente aniquilar o exército inexpugnável de Bórgia.



 


 

Um irresistível romance histórico da Renascença Italiana.  

Este livro tem dois pontos de incontornável interesse, Catarina Sforza uma figura impar e os Borgia.

Catarina Sforza «famosa por sua audácia no amor e na guerra», dominava ambas as artes! Com um apurado sentido prático, uma perspicácia politica e militar que sobressaia e a destacava. Era adorada por uns e temida por outros.

Esta é a época dos Borgia, a incontornável família espanhola/italiana da renascença italiana, que conseguiu “produzir” 3 papas. Uma família onde o sexo, a corrupção, incesto, adultério e assassinatos (preferencialmente por envenenamento) alimentavam e conduziam a ganância pelo poder. Esta carga sombria que envolvia a família é também um dos grandes apelativos da mesma, dando origem a uma famosa série televisiva com o nome “The Borgias”.

Narrada pela dama de companhia (e irmã adoptiva) de Catarina Sforza, Dea, esta história ganha cor nas suas palavras e anseios, na Fortaleza de Ravaldino, quando estão a ser atacadas. E através de um “flasback” ganhamos a percepção de toda a história e o que as levou até ali.

A descrição das personagens é um verdadeiro deleite, são descrições coloridas e breves.  

«Está nua, e a luz impregna a sua pele branca de um brilho quente, como se tivesse mergulhada em mel (...)»

Gostava de realçar também o detalhe oportuno e não muito extenso com que somos brindados ao longo deste livro. A autora detêm a minúcia e o talento que nos permite transportar para o século XV. 

Não pude deixar de reparar na atenção peculiar dada ao nariz de muitas das personagens, que de uma forma “definitiva” decretam a beleza, ou a falta dela, de uma personagem.


Catarina é uma mulher, cujo crescimento acompanhamos pelos olhos de Dea, através de confidências, diálogos e de ter testemunhado muitos dos acontecimentos. Assim é-nos permitido acompanhar a evolução espantosa desta personagem, que passa de menina travessa e mimada a arguta e temida “Senhora”. Uma personagem que tem tanto de intrigante como de austera. 
Catarina é-nos apresentada com uma mulher obstinada, determinada e ousada em tudo o que faz. No seu trajecto depara-se com Rodrigo Bórgia, de quem fica amante, e com quem quebra o relacionamento posteriormente, para descontentamento do mesmo.

Na luta pelo poder e defesa dos seus bens e interesses, os Borgia passam a ser um dos obstáculos e um temivél inimigo com que Catarina tem que se debater ao longo do enredo.
Dea é o oposto, uma personagem mais submissa, a confidente, e mais fiel aos papéis que lhe foram atribuídos, com o peculiar dom de ler as cartas.

Neste livro somos brindados com momentos de uma enorme sensualidade, como pequenas pérolas. Pequenos e preciosos episódios, que ganham toda uma intensidade embriagante, quer pela inocência que acompanha muito deles, quer pela descoberta sexual e inexperiência que encerram, dão um toque rico, incensurável e verdadeiro ao enredo ajudando na construção exímia das personagens.

Não faltam aqui argumentos para tornar este livro a sua próxima leitura.





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