Há segredos que não podem ficar enterrados para sempre…
Numa encosta perto de Reiquejavique, algumas crianças brincam junto aos alicerces de uma nova casa em construção quando, de forma inesperada, encontram uma costela humana.
A mórbida descoberta leva de imediato o inspetor Erlendur e a sua equipa da polícia científica a instalarem-se no terreno, unindo esforços para desenterrar o resto do corpo secretamente sepultado e ao mesmo tempo investigar aquele estranho caso feito de contornos brutais, escondido debaixo da terra desde o período da II Guerra Mundial.
À medida que cada osso vai sendo desvendado, também a história de violência doméstica e corrupção no seio de uma família vem ao de cima, oferecendo àquele mistério sinais cada vez mais tenebrosos de que o terror pode ser coisa de gente comum.
O caso exige toda a coragem que o inspetor Erlendur possa encontrar em si, ele que, assistindo à morte lenta da própria filha toxicodependente, que depois de abortar entra num coma profundo, não pode evitar confrontar-se com as responsabilidades de ter levado, também ele, a sua família a uma degradação quase completa.
Há muito que ansiava por conhecer a obra de
Arnaldur Indriðason, e eis que surgiu a oportunidade com "A mulher de
verde", e que bela oportunidade...
A escrita de Arnaldur é poderosa! e posso vos
confidenciar que me tocaram tanto as cenas de violência domésticas, tão bem
descritas e tão bem ilustradas que me deixaram arrepiado. A violência retratada
é uma foto tão vivida e tão real que impressiona e choca o leitor, é difícil
passar esta percepção para um leitor sem outra ferramenta para além da escrita,
e daqui facilmente podemos reconhecer ao autor uma capacidade de envolvência
invejável.
O autor, numa entrevista, confessa que quando
começa a escrever um livro não tem a ideia de quem vai morrer, e de quem será o
culpado, esses dados vão surgindo à medida que vai escrevendo, segundo
confessara. Quanto a mim este facto é palpável e serve-se na história como mais
um ingrediente que marca a originalidade deste livro.
Esta história tem lugar em Reykjavik, capital
da Islândia. Um corpo repousa, com uma mão levantada junto dos alicerces de uma
obra, enterrado à mais de 50 anos! O patologista está ausente, e o inspector
Erlendur recorre a uma equipa de arqueologistas para retirar o corpo, preservar
as potenciais evidências e poder determinar o sexo do corpo. O detalhe da incógnita
do sexo é inteligente, deixando vários cenários em aberto durante o enredo.
Parece um caso sem grande interesse uma vez
que os indícios são escassos, pelo tempo decorrido, e pela grande probabilidade
de qualquer suspeito ou testemunha poder já ter morrido. Mas rapidamente
mergulhamos na história e procuramos acompanhar (e participar) na investigação.
Erlendur, Elinborg e Sigurder preconizam o trio
de detectives que povoam esta história. Erlendur é o inspector que lidera a
investigação, é um personagem solitário, inteligente e amargurado. Abandonou a família
e transporta muitos "fantasmas" na bagagem.
Existem três histórias, o desaparecimento da
filha do inspector Erlendur, toxicodependente e grávida, com quem o inspector mantém
uma relação tensa. Mas é ao pai a quem Eva faz um insólito telefonema a pedir
ajuda.
A segunda história, sobre uma mulher e seus
filhos que são sujeitos a uma violência física e psicológica constante.
Uma terceira história faz referência a um
desaparecimento e possível assassinato.
O que gostei mais nesta leitura foi a hábil
manipulação dos factos que deixam sempre o leitor na expectativa até ao final.
Após acabar de ler este livro fiquei com uma
certeza: tenho que arranjar os restantes livros do autor.