Opinião: Natureza Morta


  
Quando a neblina se dissipa na manhã do Dia de Acção de Graças, as casas de Three Pines ganham vida. Apenas uma permanece silenciosa.

A aldeia é um paraíso seguro e os seus habitantes ficam desorientados quando a antiga professora, a muito estimada Jane Neal, é encontrada morta na floresta de áceres. Foi certamente um acidente, uma flecha disparada por um caçador, que se extraviou.

Quem poderia desejar a morte de Jane Neal?

Durante uma longa e notável carreira na Sûreté do Quebeque, o inspector-chefe Armand Gamache aprendeu a encontrar serpentes no paraíso.

Gamache sabe que há algo obscuro por detrás das belas casas antigas e das vedações de estacas brancas e que, se observar atentamente, Three Pines começará a revelar os seus mistérios…..

 




O inspector Gamache é chamado a investigar a morte de Jane Neal, uma professora reformada, vitima de um aparente acidente de caça numa pequena povoação perto de Montereal, Three Pines.  Jane era uma pessoa adorada por todos e por essa razão não se vislumbram inimigos ou potenciais suspeitos. Cabe a Gamache e a sua equipa resolver este crime e descobrir sua real causa.


"Bem vindos a Three Pines", é a primeira ideia que tenho quando penso neste livro. Este é um lugar cheio de intensidade, com uma sólida presença e personalidade que desde logo vai emergindo na nossa imaginação como algo palpável e real. 


Uma recepção simpática e acolhedora é o que nos oferece a ideia desta pequena povoação chamada Three Pines, onde as artes marcam os habitantes da mesma. A forma irrepreensível como a autora construiu este lugar e nos subjuga desde o primeiro momento à sua beleza, é espantosa. Nota-se o trabalho árduo na sua construção de forma a transmitir uma simplicidade desconcertantemente bela.


“But it was really meant to be my ideal village, set in my ideal geography. I think I imbue Three Pines with a kind of magical realism.” - Louise Penny numa entrevista.


Natureza Morta é o primeiro livro da série "Inspector Gamache", esta série promete arrecadar muitos seguidores portugueses. Para mim uma excelente aposta, sem sombra de dúvida.


A história vai-se desenrolando, e vamos podendo conhecer com maior profundidade as personagens. A diversidade de estereotipos dá corpo, solidez e substancia ao enredo. As personagens revestem de uma familiaridade notável oferecendo proximidade e cumplicidade ao leitor. As personagens que povoam Three Pines, são muito ricas e são verosímeis. Foi um prazer “degustar” durante a leitura.


O processo de investigação é mais aberto do que os policiais que tenho lido ultimamente, e por isso mais propicio a que outras personagens ajudem ou interfiram na investigação. Um exemplo claro é a discussão com os habitantes da povoação testando teorias. Mas funcionou muito bem, "literariamente falando".


Há três personagens que sobressaem:


O inspector Gamache é experiente, integro, humano, paciente, leal, afável, observador e contudo transmite uma imagem de reconhecimento e identificação, sugerindo uma pessoa simples e acessível que poderíamos encontrar ao virar da esquina, que poderia fazer parte do nosso circulo de amigos. 


A agente Ivette Nichol é arrogante, prepotente, e com um dos piores sentidos de oportunidade atribuível a uma personagem. É ela também a responsável pelas pinceladas de bom humor no enredo. Devo confessar que é uma das minhas personagens preferidas!!! É um dos pontos de destaque do livro.


Clara é criativa, e demonstra uma grande profundidade emocional. É a personagem que com quem a autora se identifica.



Louise Penny têm uma escrita reconfortante e envolvente, o efeito que criou em mim foi querer ler ininterruptamente pela noite dentro. (Roubou-me algumas horas de sono, é certo!)


O livro revela-se assim o início de uma série que promete muitas boas horas de leitura apaixonada e desenfreada.


Um final majestoso, intenso e revelador. Gostei muito.


No fim, só podia desejar que a Dom Quixote publique o livro seguinte da série.

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