Opinião: Escrito na Água de Paula Hawkins



«Um dos livros mais aguardados de 2017.» Revista TIME

Lançamento Mundial a 2 de Maio de 2017 

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CUIDADO COM AS ÁGUAS CALMAS.

NÃO SABEMOS O QUE ESCONDEM NO FUNDO.

Nel vivia obcecada com as mortes no rio.

O rio que atravessava aquela vila já levara a vida a demasiadas mulheres ao longo dos tempos, incluindo, recentemente, a melhor amiga da sua filha. Desde então, Nel vivia ainda mais determinada a encontrar respostas.

Agora, é ela que aparece morta.

Sem vestígios de crime, tudo aponta para que Nel se tenha suicidado no rio. Mas poucos dias antes da sua morte, ela deixara uma mensagem à irmã, Jules, num tom de voz urgente e assustado. Estaria Nel a temer pela sua vida?

Que segredos escondem aquelas águas?

Para descobrir a verdade, Jules ver-se-á forçada a enfrentar recordações e medos terríveis há muito submersos naquele rio de águas calmas, que a morte da irmã vem trazer à superfície.






Acabei de ler o livro dia 13 de Abril, mas quis obter um certo distanciamento para poder escrever esta opinião. Quis-me permitir reflectir sobre a obra.

Gostei do livro "A rapariga no Comboio", gostei inclusive da adaptação da obra ao cinema. Mas este livro, na minha opinião, é muito melhor que o anterior!

Diria que é mais maduro, que é mais uniforme! Apesar das variáveis e das dúvidas com que o leitor é confrontado a dinâmica da história passou-me a clara ideia de um caminho bem amadurecido, ponderado e mesmo assim sem qualquer resquício de artificialidade.

É interessante ver como a autora desenhou a pequena localidade que serve de cenário ao livro. Ver a proximidade entre os habitantes, natural de meios pequenos, os próprios comportamentos que foram habilmente reproduzidos e facilmente identificáveis aos olhos do leitor através do uso de alguns estereótipos, tão necessários na narrativa. 
Temos os habitantes que retornam à localidade onde nasceram após um afastamento prolongado, as famílias influentes que emanam respeito e reverência fruto da posição que ocupam, os segredos sombrios partilhados, as fortes e incontestáveis relações de amizade da juventude, a inveja, a decadência e infortúnio de a quem se agourava sucesso, ... Este é de facto um enquadramento muito bem conseguido e necessário.

A investigação da causa de morte de Nel alimenta e conduz a narrativa dando a conhecer a história daquelas águas e das respectivas vitimas. E é nessa procura que começam a surgir segredos, verdades incomodas e muitas outras revelações que vão agarrando o leitor, ludibriando-o e servindo o seu deleite. 
Outra nota referente à narrativa é a oportunidade que nos é dada de ver determinadas cenas sob diferentes perspectivas e ter uma imagem mais abrangente. Alternando a personagem em conjugação com pequenos avanços e recuos, a autora conseguiu que as mesmas se encaixem harmoniosamente e complementem a narrativa.

O auge deste livro é quando chegamos a um ponto em que aparentemente nos dirigíamos para a solução do enigma e somos confrontados com o inverso! Com um punhado de hipóteses, uma multiplicidade de suspeitos que já havíamos descartado! Delicioso!
Noto uma predilecção da autora por personagens femininas frágeis e voláteis.

Outro atractivo deste livro é a caracterização de duas personagens que me cativaram desde o inicio: Jules num retrato hábil com uma minuciosa caracterização através da qual são descritos as consequências do "Bullying", a forma dilaceradora de como este pode condicionar toda uma vida. 
É-nos mostrado como uma atitude leviana, infantil e cruel tolda a percepção que temos "do que" e "de quem" nos rodeia, tal como nos altera a percepção de nós próprios. Como nos agride e nos fragiliza!

Jules é também a personificação de um tema que Paula Hawkins adora explorar! A percepção! A autora joga, consistentemente e continuamente, com a percepção de Jules e do leitor. Opondo-os, testando-os e levando-os à dúvida.

A segunda personagem que gostei foi Lena, uma adolescente de 15 anos, filha de uma das vitimas. A rebeldia da juventude, a sua intransigência e a peculiar visão do mundo que a rodeia foi despejada não só na atitude como nos arrufos de Lena. Há nesta personagem algo de mais profundo! 


Há uma revolta contra a sociedade que não a entende e aos olhos desta está desajustada. Há um pacto e valores que Lena defende com uma acérrima vontade e que mostra a necessidade de pertença e apego da personagem. Reparei também no cuidado (ou falta dele, conforme a perspectiva) com o vocabulário. A tempestividade da sua reacção, a confrontação de atitudes mais responsáveis e até ponderadas com outras completamente irreflectidas no calor do momento. Esta dicotomia entre a força e a fragilidade tão usual na sua idade.

O final foi para mim insondável e imponderável durante a maior parte do livro. E, ao contrário de como já aconteceu noutros livros, não me senti defraudado porque não foi algo que ali caiu de páraquedas, por assim dizer. Foi consistente e coerente com a narrativa
apresentada.

Gostei do livro e na minha opinião houve uma franca evolução em relação ao livro anterior.
O que trás uma pesada responsabilidade à autora! Porque as minhas expectativas ficaram muito altas e estou curioso por ver o que virá depois de "Escrito na Água".

Recomendo, sem qualquer reserva, este livro.











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