Opinião: O Enforcado de Faye Kellerman



 

Há quinze anos, Chris Whitman, no seu último ano do secundário, foi parar à prisão por ter assassinado a namorada, Cheryl Diggs. 

Impulsionado por um sentido equivocado de cavalheirismo, confessou, determinado a proteger outra colega de turma, a bela e vulnerável Terry McLaughlin, de ter que testemunhar no seu julgamento. Quando a verdade veio à tona, Chris foi libertado da prisão e casou-se com Terry, que estava grávida dele, e mudou o seu apelido para Donatti.Peter 

Decker foi o detetive encarregado do caso e, ao longo dos anos, manteve contacto com Terry. Agora, a sua amiga estava em Los Angeles e pede-lhe um favor, mas o favor não tardou a complicar-se quando Terry e Donatti desaparecem, deixando Gabe, o seu filho de catorze anos, sem ninguém a quem recorrer, exceto Decker e a esposa, Rina Lazarus.

Mas Decker tem de combinar a procura de Terry com um assassinato horrível. A enfermeira Adrianna Blanc tinha terminado o seu turno às oito horas da manhã. Seis horas mais tarde, um capataz, que supervisionava a construção de uma casa numa área residencial perto do hospital, descobriu o corpo pendurado numas vigas com cabo elétrico à volta do pescoço. 

Adrianna, uma profissional dedicada e conscienciosa, também gostava de festas, álcool, sexo fetichista e traía o namorado, Garth Hammerling, por vingança. As suspeitas aumentaram quando Decker e a sua equipa descobrem que um dos últimos telefonemas de Adrianna foi uma mensagem provocativa para o namorado, que estava de férias e que também tinha desaparecido sem deixar rasto.

Como se coordenar duas investigações não fosse suficiente para ele, as coisas não param de se complicar a nível familiar. Decker, que sempre foi um pai preocupado, queria cuidar de Gabe, o filho de Terry. Mas quem iria proteger a sua família? Porque se havia algo que tinha claro era que, com um sociopata como Donatti à solta, ninguém estava realmente seguro.
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Decker tem entre mãos duas investigações, por um lado investiga o desaparecimento de Terry após uma conversa no mínimo tensa com o seu companheiro Chris.

Como consequência deste desaparecimento surge Gabe, o filho de ambos, catorze anos e com um dote muito especial... E assim de um momento para o outro Decker e Rina vêem-se na eminente possibilidade de ter que acolher Gabe. Mas Decker não consegue deixar de se sentir a sensação que foi manipulado!


Por outro lado, Decker e a sua equipa investigam o provável assassinato de Adrianna Blanc, enfermeira, descoberta enforcada numas obras perto do hospital onde trabalhava. À medida que que a investigação avança começam-se a conhecer o circulo de amigos e as complexas e pouco convencionais relações de Adrianna! O que aumenta o número de suspeitos.



Não sei como vocês reagem a cheiros, mas posso dizer-vos que há cheiros que de imediato me invocam recordações, me transportam... O cheiro de terra molhada, por exemplo, traz-me a sensação de paz de espirito, relaxamento e conforto conceitos associados a férias em casa dos meus avós. 


Essa mesma identificação acontece quando leio os livros de Faye Kellerman! Os meus sentidos ficam apurados e não consigo deixar de sentir um aroma caseiro e a sensação de reconhecimento! É um misto retorno às raízes, de conforto, de aconchego, de segurança! É tão bom ler Faye!


A história é dinâmica, e gostei do facto de o livro se dividir em duas investigações, porque nos impele sempre (mesmo que inconscientemente) a procurar relação entre as duas. O efeito é que nos desperta mais para a história e para os detalhes levando-nos a procurar pontos de intercepção, e com esta entrega, no final, ficamos com muito mais que uma pequena história. Cria-se aqui uma espécie de comprometimento entre autor e leitor, dar para receber!


Existe nos livros da autora, que tive oportunidade de ler, uma componente forte ligada à família. Mas não num sentido restrito ou preso a um conceito tradicional e estereotipado! É a família que Alvin Toffler profetizava na "Terceira Vaga", em que a família era composta por os cônjuges e filhos de casamentos anteriores de ambos além dos próprios, e todos com ligações muito próximas e enraizadas. O conceito intrínseco de família vertido neste livro é muito mais profundo do que qualquer pseudo-convenção da sociedade e trás ao leitor um sentimento de pertença e conforto digno de se dar nota!


Quanto às personagens:


Não há como não gostar de Rina, a preocupação natural com todos os seus membros. Um coração grande e genuíno que consegue sempre albergar mais um. E a comida que ela faz, meu deus, só de pensar nas refeições narradas deixam-me água na boca. 


Decker, por seu lado, tem a sorte de ter a seu lado uma mulher compreensível, afectuosa que acima de tudo guia o lado pessoal e familiar da vida do casal. E como rapidamente compreenderão este lado familiar é um pilar forte que sobressai nas histórias de Faye. 
Profissionalmente é um homem coerente, profissional, amigo, arguto e embora paciente sabe impor-se nos momentos críticos.


Outro ponto interessante da dinâmica deste casal é a religião, ainda que de uma forma muito ténue neste livro, é um dos adereços das cenas a que nos adaptamos de imediato.



A escrita de Faye Kellerman continua a marcar pela simplicidade, coerência e fluidez. E facilmente percebemos e reconhecemos os dotes de escrita que Faye tem.


Esta autora entra assim no círculo dos meus escritores preferidos. Venha o próximo.:)

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