Opinião: A casa azul de Claudia Clemente


 
A moradia de uma família arruinada, no Porto, que é demolida para dar lugar a um condomínio.

Uma mulher que desistiu de tudo desde que teve de vender a casa azul e despedir-se das suas magníficas árvores.


Um agente da PIDE que segue, nos anos 60, os movimentos dos habitantes da casa azul.


Duas irmãs gémeas que desconhecem a existência uma da outra: uma parisiense, outra portuense.


Um homem num hospital em Paris, gravemente queimado, que todos os dias é visitado por uma jovem. 


Uma história de amor e paixão que nasceu em Paris, no único mês de Maio em que tudo foi possível.

 





Começo por dar uma recomendação: Não leiam a sinopse, eu confesso que leio todas quando divulgo os livros, mas por norma não volto a ler quando pego no livro. Quero entrar na história sem preconceitos nem nada que altere a experiência como um todo. Não levem expectativas!!, nem boas nem más. Desfrutem da leitura, especulem durante a mesma. Porque é ai ... na descoberta, que reside a beleza desta obra.



«desconfiem das realidades parciais, procurem a outra metade.»

Comecemos pela forma ... o livro socorreu-se dos 4 elementos (Ar, Terra, Água e Fogo) para dividir os seus breves capítulos.

Confesso que a história, apesar de bem escrita, não me agarrou nas primeiras páginas, o que me fez desde logo tecer umas quantas linhas de raciocínio quanto à evolução da mesma.

Mas é com agrado que me senti “enganado” pelas minhas precoces suposições, a história começa morna e subtilmente, como se de uma serpente se trata-se (desculpem a analogia, mas parece-me a que mais ilustra o que vivenciei) que pacientemente fita a sua presa, vai-nos envolvendo sem nos apercebermos, e quando damos por ela estamos indefesos perante a grandeza e força do seu abraço!!

É uma história que cresce, evolui. E esta constatação é visível e perceptível a todos os níveis e enriquece a obra. 

«Completou a quarta classe, pé descalço, olho vivo, e sorriso malandro nos lábios.»

A obra parece um puzzle, com peças de cores baças, desconexas, a que a dada altura nos perguntamos qual seria o objectivo, qual a imagem final do que procuramos?

E de um momento par o outro todas as peças começam a encaixar, tudo parece fazer sentido, cada nova peça trás uma nova cor e uma nova luz às restantes, e um novo ímpeto de prosseguir. E é ai, que tudo ganha contexto, tudo se alinha numa bela tela. 

Gostei muito do jogo do espaço e do tempo no enredo a que recorreu a autora.

Quanto às personagens, e é aqui – a meu ver – que reside um dos elementos interessantes da obra, são o veículo e a estrutura que suporta habilmente a história.

Percebe-se um jogo de intimidade entre a autora e a obra, como uma oferta de si mesma ao livro. Contudo não se percebe onde a realidade e a ficção se encontram, onde os limites se tocam, tal como devia ser. :)

Uma experiência literária fascinante, que desarma o leitor. Uma viagem singular proporcionada por uma autora que só posso considerar dotada de um dom e com um enorme potencial.

Espero ter a oportunidade de ler brevemente algo mais da autora.

Diria que é pecado não lerem esta autora!


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