Opinião: O Jogo de Anders De La Motte




 

Henrik Pettersson, «HP», encontra acidentalmente um telemóvel que o convida a entrar num jogo de realidade alternativa. Passado o teste de admissão, começa a receber uma grande variedade de missões emocionantes, todas elas filmadas e avaliadas secretamente. HP deixa-se imediatamente conquistar por este jogo, mas não tarda a perceber que ele não é tão inocente como a princípio parecia. A inspetora da polícia Rebecca Normén é o oposto de HP. É uma mulher com perfeito controlo da sua vida e uma carreira ambiciosa em ascensão. Tudo seria perfeito não fosse o bilhete escrito à mão que ela encontra no seu cacifo. Seja quem for que o escreveu, sabe demais acerca do seu passado.

Os mundos de HP e Rebecca aproximam-se inevitavelmente um do outro. Mas se a realidade é apenas um jogo, então o que é real?

 






A primeira ideia que me surgiu quando vi o livro foi o filme, com o mesmo nome, de 1997 interpretado pelo actor Michael Douglas. Um filme extraordinário, devo acrescentar. O que de alguma forma aumentou ainda mais a curiosidade.


Embora haja (poucos) pontos em comum, a história e o propósito são claramente divergentes. O interessante é que o autor não se coibiu de utilizar outras referências cinematográficas de grandes obras para dar referenciação e uma imagem mais próxima ao leitor.


Um dos detalhes que mais gostei foi a escolha da personagem principal. A escolha de um anti-heroi. Estamos habituados a ver personagens determinadas, personagens com uma humanidade transcendente e com um sentimento ético apurado. E se não têm estas características, vão as ganhando no desenvolvimento da história.


Herrik Petterson (HP) tenta fugir dos estereótipos literários, é uma personagem interessante, egoísta, egocêntrico, comodista, focado essencialmente no seu bem estar e nas suas próprias necessidades imediatas. Julgo que aqui foi sacrificado um pouco o conflito interno da personagem, mas ganhou-se na diferenciação e na caricatura de um tipo de jovem que prolifera na nossa sociedade.


Aqui está a critica social, característica da literatura nórdica, utilizando o HP, o autor consegue um retrato interessante de parte da nossa sociedade, da inércia, da falta de motivação numa sociedade onde se criou a ideia que tudo nos é devido, e tudo aparece feito, onde tudo que se consome (informação, produtos, …) têm de estar à distância de um clique e não pode envolver grande esforço.


Dai perceber que a evolução da personagem (HP) não possa ser para a pessoa responsável e de ética irrepreensível, pois deixaria de ser verosímil. Alguns dirão que ainda faltam dois livros e essa reviravolta pode acontecer. Concordo, contudo ... não nos podemos esquecer que este primeiro livro não foi pensado como trilogia, mas sim como uma obra única. :) E a mensagem é clara e bem conseguida.


A personagem Rebecca Normen, é uma agente em ascensão, focada, responsável, profissional e que de alguma forma rivaliza e acentua as características de HP.


Os ingredientes deste thriller são actuais e atractivos: jogos, novas tecnologias, hackers e nerds da informática que se tornam eremitas.


Realça-se o equilíbrio do suspense, a actualidade do tema e a verosimilitude da história.

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